
Mas que ousadia, falar sobre a nossa violência, os nossos problemas, e ainda criticar nossa Polícia!
Não, não foi ousadia não, eles repetiram, em inglês, algumas coisas que sempre afirmamos aqui. E com uma análise bastante inteligente, de causar inveja à nossa fraca, preguiçosa e tendenciosa imprensa carioca. Vamos "analisar a análise" deles?
"Em qualquer lugar do mundo, o esquema de segurança sufocante deixaria os moradores nervosos" “Elsewhere, the suffocating security might make locals nervous”
Referem-se ao sem número de policiais que ficaram plantados, a pão e água, nos entornos dos jogos, ostentando armas de guerra, e com semblantes nada amigáveis.
O enfrentamento da violência pregado pelos últimos e atual governos, em uma corrida armamentista com o tráfico de drogas. A cada arma mais poderosa contrabandeada com facilidade pelos marginais, o governo “investe” em maior poder de fogo, sempre perdendo a corrida e potencializando o trauma dos confrontos. O embate militar, o confronto buscado, a brincadeira de “gato e rato”. Nada de investir em inteligência, na investigação, na valorização e formação técnica do servidor. Porque o serviço de investigação criminal nada mais é do que uma atividade técnica.
"Os bicheiros, como são chamados os mafiosos, saem das sombras uma vez por ano para patrocinar o Carnaval do Rio, exibindo seus lucros e celebridade" “The bicheiros, as the numbers mafia was called, came out of the shadows once a year to sponsor Rio's carnival, laundering their profits and reputations”
O jornal afirma que a Polícia deixou de ser ineficiente há muito tempo, quando começou a receber dinheiro do jogo do bicho. E hoje, o tráfico de drogas faz a mesma coisa.
Não é novidade por aqui, as malditas maquininhas, o popular jogo do bicho em si, os tentáculos destas organizações criminosas que mantém (ou mantinham?) a estrutura das próprias Delegacias, engordam os bolsos de Delegados, investigadores “chefes de SI” e Oficiais da PM. Os policiais civis e militares e os bombeiros que trabalham na segurança da contravenção.
"O regime de contrato do serviço público, que torna difícil a demissão dos servidores também não ajuda" “Brazil's forgiving labour code, which makes it difficult to fire public servants, has not helped”
E não ajuda mesmo. Vemos muito poucos casos de punição com demissão, o que revela o deficiente trabalho das corregedorias e/ou conivência com os crimes que deveriam ser investigados. Mas apesar disso freqüentemente vemos demissões de policiais; esta semana mesmo em nosso boletim interno foi publicada a demissão de dois (um Inspetor e um Perito), porém como as leis estão ultrapassadas, e o procedimento administrativo é extremamente mal feito, capenga, estes servidores acabam conseguindo voltar por decisão judicial.
"Igualmente prejudicial tem sido a preferência dos eleitores cariocas pelos "líderes" populistas, que distribuiram altos cargos de confiança para amigos" (e maridos eu acrescentaria). "Equally unhelpful has been the Cariocas' soft spot for populist leaders who have handed over plum law-enforcement posts to cronies"
Não sei, será que eles se referem ao cheque-cidadão, restaurante popular, café da manhã popular, farmácia popular...?
"Enquanto isso, a Polícia Estadual (do Rio) é a segunda mais mal paga do país, então não surpreende sua fraca performance" “Meanwhile, the state police are the second-worst-paid in the country. So it is not surprising that the police's performance is so poor”
Essa nem vou comentar...
"Além de ser incompetente, a Polícia do Rio é uma das mais brutais do mundo" “As well as being incompetent, the Rio police are among the most brutal in the world”
No artigo eles citam a operação no Complexo do Alemão, quando em um só dia 19 pessoas foram mortas, e em um mês de ocupação esse número chegou a 44 pessoas.
Mais do mesmo, como diria Renato Russo da Legião Urbana. Política de enfrentamento, combate armado. Não há investigação, não há inteligência. Simples assim. 20 criminosos são mortos, tem mais 200 esperando para ocupar a vaga. E assim vai em progressão geométrica.
Então, a única coisa que podemos fazer diante desta reportagem é lamentar que o nível da imprensa brasileira esteja muito aquém do profissionalismo daquela. Talvez porque eles não tenham “interesses” a dividir com o Governo, que se perpetua mantendo a população em erro. Só engodo. O que sei é que eles disseram em um artigo o que nossa imprensa não conseguiu dizer em anos.
Talvez alguém fique chateado com a reportagem da BBC, se ofenda por terem se intrometido aonde não fora chamados. Não sei a reação de outros policiais, mas esconder que as afirmações são verdadeiras, é "tapar o sol com a peneira".
Que comecem os debates públicos, que se enxergue que o que gera a violência é a falta de políticas sociais (só se fazem políticas populitas neste país), de uma bom sistema de Saúde e Educação, e de um entendimento correto das instituições policiais, adequando cada uma à sua atribuição definida nos idos de 1988, na Constituição Federal. Se é que eles leram...