Este aconteceu por esses dias.
Já por volta de 15 horas a Base recebeu uma informação sobre a localização de traficantes na turística e política favela da Mangueira, Zona Norte do que já foi chamado de Cidade Maravilhosa. Rapidamente uma equipe com o pessoal de plantão foi acionada, embarcaram no Pacificador e se dirigiam para o morro.
Com o apoio do helicóptero Águia, o grupo de marginais locais se dispersou, mas um ficou encurralado, e a equipe de terra conseguiu localizá-lo. Ele estava com uma mochila completamente abarrotada de entorpecente pronto para venda aos ávidos consumidores cariocas, tudo já embaladinho.
A primeira coisa que chamou a atenção foi a diversidade de drogas transportadas por um só mulambo. O meliante (vamos chamá-lo assim) estava com mais de 300 papelotes de cocaína; uns 21 tabletes pequeno de maconha prensada e mais um grande com 1 Kg da mesma droga; quase 300 sacolés de maconha picada; 50 sacolés com Crack; 47 sacolés com haxixe; e 30 frascos de "cheirinho da loló" ou "lança perfume" (clorofórmio).
Enfim, o dito cujo já estava bem enrolado devido à quantidade de entorpecente. Chegando na Base, para lavratura do Auto de Prisão em Flagrante, encontramos na mochila, além de das drogas, munições cal. 12 e 7,62. E também uma carteira de identidade em nome de outro cara. A explicação para ele estar com a identidade de outra pessoa foi que "trata-se de um viciado que fez um rolo na boca e ficamos com o documento por garantia"...
Iniciando os trabalhos, perguntamos sobre quem deveria ser contactado para avisar que ele estava preso, que indicasse um familiar. Ele nos deu o telefone de um tio, para quem ligamos: "Boa noite, aqui é da Polícia Civil. Queremos informar que o Fulano está preso. Ele vai falar com você agora."
Daí passamos o telefone pro bandidinho falar: "Oi tio. Pô, fui preso, pede pra minha mãe trazer uma roupa... é... Não, não tem conversa...". Putz, o cara preso, o tio recebe ligação da DP comunicando o fato, e ainda tá pensando em negociar a liberdade do criminoso! Sim, uma situação à qual a criminalidade por aqui se habituou, mas conosco não!
Depois de rirmos um pouco, continuamos nos trabalhos, levantando informações sobre o menino. Ora ora, o cara estava foragido da Justiça! Tinha um Mandado de Prisão em aberto depois de ter sido condenado por 157. É roubo, e no caso dele, com emprego de arma de fogo e concurso de pessoas. Mais uma pra conta dele.
Continuamos vasculhando, e não encontrávamos nada sobre o dono da identidade que estava com ele. Até que consultando Registros de Ocorrência de outras delegacias descobrimos que o infeliz estava morto. Motivo: homicídio provocado por queimaduras!
Os traficantes do Rio, como todos sabem, mantêm um tribunal informal, no qual julgam seus desafetos, e uma das penas (a mais comum) é a morte no microondas. Pega-se o infeliz devidamente amarrado, e o enfia em um buraco, normalmente uma pequena caverna de pedra nas encostas dos morros, joga-se combustível e taca fogo. Uma morte agonizante destinada aos traficantes rivais ou policiais eventualmente seqüestrados durante assaltos.
E o sujeito ainda fica com a identidade do morto! Ta pedindo mesmo. Mais uma que ele vai responder, já que entrei em contato com a DP que está investigando a morte e vou mandar cópia de tudo.
Mas provavelmente o infeliz nem vai chegar a cumprir toda a pena. Vai ser condenado de novo, cumprir alguns meses e sair da cadeia num desses indultos de Natal, Páscoa ou Dia das Mães e não vai voltar. Vai ficar na favela, quem sabe descer pro asfalto e roubar uns carros, talvez matando mais um cidadão pagador de impostos. Até que um dia ele vacila na boca e vai ele próprio pro microondas. Ou vira estatística de alguma Operação Policial. Enfim, o futuro dele nós imaginamos, o que é difícil saber é quantas pessoas mais ele vai prejudicar até o fim.