Parado em um sinal de trânsito, enquanto conversava com a esposa, percebeu a aproximação de uma motocicleta com dois homens. Ambos usavam capacete, e o que estava na garupa levava a mão direita apoiada na cintura. Imediatamente, Charlie já se preparou para uma possível reação em caso de assalto. Se desse para reagir, ótimo, senão tentava jogar a arma debaixo do banco, e rezar. A motocicleta, porém, passou direto ao lado de seu carro, e parou junto à um táxi, também parado no sinal. O homem da garupa desceu da moto, já apontando uma pistola cromada, que refletia a intensa luz do sol daquele dia de folga. “Passa o dinheiro!”, gritou o homem, enquanto apontava a arma para um passageiro, um senhor já com certa idade, que seguia no banco traseiro.
Charlie ameaçou descer do carro e intervir, mas foi contido pela esposa. "Tá maluco, nosso filho está aqui no carro!". Charlie ponderou, e se conteve. Enquanto o marginal gritava, gesticulando com a arma em sua mão direita, o velho senhor parecia relutante. O assaltante, a cada fração de segundo, mostrava-se mais violento. "Ele vai atirar no coroa, ele vai matar o cara!", gritou a esposa de Charlie. "Vai lá ajudar...", enquanto pulava para o banco de trás, se jogando no chão do carro com a criança. Mal a esposa terminou a frase, Charlie já descia de seu carro, com a disposição de um pitbull, o coração batendo a mil por hora. Empunhando a arma em posição sul (apontando para o chão), progrediu pelo corredor irregular, formado pelos carros mal parados, e apontando para o criminoso... "Pára! Polícia!". Foi o que bastou. O criminoso virou-se, já com a arma apontada para Charlie, e fez dois disparos, no susto. Nenhum atingiu o policial, que atirou três vezes.
O mundo entrou em câmera lenta. Era possível ver os projéteis, um após outros, estourarem no peito do criminoso. Dois no peito, um na barriga. Enquanto o corpo do marginal tombava ao solo, o comparsa que havia ficado sobre a motocicleta acelerou, fazendo o motor gritar, agudo. Instintivamente, Charlie efetuou mais um disparo. Errou o fugitivo, mas acertou o pneu traseiro, o que não foi o suficiente para impedir a fuga do piloto, que habilmente controlou o veículo e sumiu de vista.
Uma ambulância passava naquele exato momento e socorreu o criminoso baleado. Charlie lembrou de uma velha piada. "É o cúmulo da sorte ser atropelado por uma ambulância..." e logo em seguida chegaram duas viaturas da PM. Já conhecidos de Charlie, se cumprimentavam e perguntavam se estava tudo bem, quando populares vieram correndo dizendo que o criminoso que escapara, abandonara a motocicleta alguns quarteirões à frente, e viram quando ele saltou e, antes de correr subindo uma rua íngreme, retirou da cintura uma pistola, e a colocou na mochila.
Arrecadada a arma do bandido ferido, arrecadada a motocicleta, Charlie e os militares foram para a delegacia da área. Consultado o sistema de informação policial, foi verificado que a moto não era roubada, não constava ocorrência. E enquanto o registro era digitado, ouviu-se no rádio: "3ª DP, comunicando o roubo de uma motocicleta...". Era a mesma motocicleta. Só que a pessoa que comunicava o roubo dizia que tinha sido assaltada dez minutos antes, ou seja, depois do roubo impedido por Charlie. Burros. Pausa na ocorrência, foram até a outra delegacia, que registrava o falso roubo. A suposta vítima, um terceiro homem, acabou confessando que o roubo da moto era mentira. Mas o veículo estava em nome de uma mulher, também presente comunicando o falso roubo. Era a mãe do marginal que fugiu. Os dois foram autuados por falsa comunicação de crime. O assaltante que foi socorrido morreu no hospital. O que fugiu, não foi mais encontrado naquele dia.
Eram 8 da noite quando as ocorrências terminaram, e Charlie pôde voltar para casa. Cansado, desculpou-se com seu filho, que acabou passando o dia em casa vendo televisão. No dia seguinte estava de plantão, e tinha que chegar às 4 da madrugada pois fora convocado para uma operação em uma das favelas na zona sul do Rio.
... talvez continue...