Após a conclusão do último concurso para Investigador de Polícia, da Polícia Civil de São Paulo, a ACADEPOL divulgou um levantamento estatístico do certame, o qual acabei descobrindo lendo o blog Investigador de Polícia, do policial civil Flávio Lapa Claro.
Os números impressionam, seja pela quantidade, ou pela ausência de. Foram cerca de 128 mil pessoas a se inscreverem no concurso, mas no dia da prova "apenas" 67.407 candidatos compareceram. Daí já se pode ver um enorme número de desistentes, que abandonaram o concurso antes mesmo de serem testados.
Mas o que mais impressionou mesmo foi que, dos mais de 67 mil que fizeram a prova, somente 390 pessoas conseguiram a aprovação, ou seja, acertaram mais de 50% no mínimo em cada disciplina. Isso representa 0,58% de aproveitamento. Foram disponibilizadas 1.449 vagas para o cargo de Investigador, mas, até então, apenas 390 poderão ser ocupadas. E ainda faltam fases do concurso, como exames físicos, médicos, etc. Veja o gráfico elaborado pela organização do concurso:
No concurso do Rio a situação foi bem parecida, com exceção da procura. Foram 500 vagas abertas para Inspetor de Polícia, e o número de inscritos que foram fazer a prova não chegou a 7 mil. E destes, pouco mais de 700 conseguiram a nota mínima para aprovação. Em outro concurso daqui, ainda em andamento, são 300 vagas abertas para Oficial de Cartório Policial (antigo Escrivão). Não foram divulgados números, mas parece que a procura foi menor ainda, comparado ao concurso para Inspetor. Tanto que resolveram prorrogar o período de inscrições!
O agravante no caso do Rio é que o ingresso nestes cargos passou a exigir nível superior de escolaridade, mas os salários não acompanharam nem de longe esta evolução. Cargos de nível médio em qualquer outro órgão pagam 3 vezes mais. Tenho um amigo que é Técnico do TRT e recebe hoje um salário superior a R$ 5.000,00, devido às gratificações.

A explicação, no nosso caso, não é outra, que não os salários enormemente defasados, principalmente quando comparados às carreiras policiais de outros estados, ou nível federal. Há 12 anos atrás, um policial civil no Rio iniciava a carreira recebendo mais de 10 salários-mínimos; hoje, recebe 3 salários-mínimos, e com grande luta para ter algum reajuste que impeça maior desvalorização dos vencimentos. Por exemplo, ano passado o governo Sergio Cabral "presenteou" os policiais com um reajuste de 4%, enquanto o índice oficial de inflação chegou quase a 6%.
É muito salutar que os concursos sejam mais exigentes, e testem ao máximo os futuros policiais. Foi assim que a Polícia Federal conseguiu melhorar tanto o nível de seu trabalho. Mas enquanto a parte salarial da PF também não for copiada, nada feito. Afinal, mesmo querendo muito ser policial, o cidadão também tem família para sustentar, aluguel para pagar, e não pode - nem deve - se dar ao luxo de deixar de conseguir um bom salário, para concretizar o sonho de ser policial ganhando bem menos. E, sempre bom lembrar, além disso o candidato à policial vai passar a viver o risco de morte diariamente, principalmente no Rio, onde uma carteira policial é considerada uma sentença de morte.
Ainda espero, torcendo para ver um dia, a segurança pública sendo tratada com seriedade, e não com o espetacular amadorismo que hoje a classe média inocentemente aplaude, que deslumbra a mídia, e mantém o povo encarcerado atrás das grades de suas próprias casas.
Como diz a música da banda O Rappa, "as grades do condomínio são para trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você que está nessa prisão"...